Danilo Chagas Ribeiro

Pisa-Carta_2No carnaval velejei com amigos pelo Rio Guaíba, em Porto Alegre. Pernoitamos a bordo do veleiro Canibal, no local conhecido por “Tranquilo”, na costa norte da Ponta Grossa, margem esquerda do Rio Guaíba, nas proximidades da praia em meio ao costão rochoso. As nuvens refletiam as luzes de Porto Alegre, tornando vísivel a tubulação de saída do emissário da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Projeto PISA que flutua nas proximidades, para ser em breve submergido. Trocávamos idéias sobre a obra quando surgiu uma indagação.
Nas seguidas vezes em que passamos por aquela região durante o ano passado e neste ano, não vimos draga alguma operando por ali. No entanto, o jornal Zero Hora publicou recentemente (cópia da notícia mais abaixo) que o DMAE, órgão da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, responsável pelo PISA, vai submergir aquela tubulação hoje, quinta-feira, 14. Associando-se essas duas observações com o fato do alarme de profundidade do ecobatímetro do veleiro ter soado no procedimento de fundeio (menos de 2 metros de profundidade), é que surgiu a indagação:
Pisa-Tramos_Gearth– Como poderá uma tubulação com 2,5m de diâmetro (tubo e peças de concreto) passar por região do rio em que a profundidade varia de 1,5 a pouco mais de 3 metros, conforme carta da Marinha, sem que tenha sido feita dragagem?
Só se o emissário for jogado sobre o leito do rio, sem mais nem menos.
Isso significa que parte do emissário estará aflorado (visível, acima da superfície), representando um dique rio adentro, e que outra parte representará, além de um obstáculo à circulação, também uma barreira com consequências ambientais indesejáveis. Em se confirmando a suspeita, está por ser criado um braço morto de mais de um quilômetro e meio dentro do rio.
No dia seguinte navegamos da Ponta Grossa até a Ilha Francisco Manoel e perguntamos a alguns velejadores assíduos do Rio Guaíba que lá encontramos, se haviam visto draga operando nas proximidades da Ponta Grossa nos últimos meses. Ninguém viu. Isso não garante que não tenha havido dragagem, mas para aumentar a suspeita de que estamos na iminência de assistir a um descaso ambiental, coincidentemente no domingo de carnaval o Comandante Engº João Pedro Wolff tornou público ao grupo de navegadores POPACOMBR, que:

1) O cano que esta no lado da Ponta Grossa vai ser afundado a moda louco como esta hoje (só vai ser alinhado ao morro)
2) Não há previsão de verba para colocar o complemento do cano (projeto original) nem para a dragagem de onde o cano vai ser afundado

Se assim for, o emissário representará uma barreira de 1,6km rio adentro, já que em parte estará aflorado e em outra parte representará um muro de 2,5m sobre o leito do rio, onde a profundidade é em torno de 3 metros. Em que pese o inegável benefício da obra de saneamento, esse dano ambiental que se suspeita é evitável.
Meras suspeitas e indagações, que em breve serão confirmadas, ou não.

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Matéria publicada em Zero Hora de 25/01/2013

Sob as águas 25/01/2013 | 05h08
Última etapa do Pisa na orla do Guaíba tem início na Capital
Emissário final do sistema de tratamento do esgoto de Porto Alegre será instalado em fevereiro
Depois de uma boa conversa, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) se entenderam sobre a instalação da última parte da tubulação do Projeto Integrado Socioambiental (Pisa) nas águas do Guaíba. Os tubos subaquáticos do emissário final, estrutura que jogará o esgoto tratado na água, serão lançados no leito em fevereiro.
Segundo o diretor-geral do Dmae, Flávio Presser, a continuidade desta etapa da obra foi garantida depois que o órgão estadual esclareceu os termos da atual licença de instalação. Pelo documento, válido até 17 de fevereiro, o Dmae pode lançar uma tubulação de até 2,6 mil metros Guaíba adentro. Como a ideia do departamento é construir inicialmente 1,6 mil metros de canos, a medida estaria dentro do que a autorização prevê.
— Não precisamos de uma nova licença para começar essa parte do projeto. No dia seguinte à conversa com a Fepam, já demos a ordem de início dos trabalhos — afirmou Flávio Presser.
Tamanho do emissário final na água está em discussão
Acertadas as interpretações da licença pelos dois órgãos, os serviços em terra para conectar os tubos subaquáticos já começaram na Serraria, na zona sul de Porto Alegre, onde fica a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Serraria, o ponto final do sistema de tratamento de esgoto do Pisa.
O Dmae ainda precisa definir com a Fepam o tamanho do emissário final na água. A fundação havia aprovado o projeto com uma estrutura de 2,6 mil metros, a contar da margem do Guaíba. No entanto, o órgão municipal entende que 1,6 mil metros são suficientes para evitar que o resíduo final do tratamento de esgoto se acumule na água e que o lodo no leito do Guaíba seja remexido com a operação do sistema a ponto de ser levado para as praias da região.
bruna.porciuncula@zerohora.com.br

Matéria publicada em Zero Hora de 20/11/12

André Mags
andre.mags@zerohora.com.br
A possibilidade de o despejo de esgoto tratado de Porto Alegre ser feito em um ponto mais próximo da orla do Guaíba do que o autorizado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) tem preocupado moradores da Zona Sul. Por questões financeiras e operacionais, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) quer diminuir em um quilômetro a tubulação de 2,6 mil metros que levaria o material até o canal de navegação. Com a redução, o despejo ocorreria em uma enseada.
Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do bairro Serraria está em construção. Ela faz parte do Projeto Integrado Socioambiental (Pisa), que aumentará de 27% para 77% a cobertura do tratamento de esgoto na Capital. A previsão é de que o Pisa esteja operando a pleno no final do primeiro semestre de 2013, mas o Dmae quer ter a autorização da Fepam para ativar a ETE já entre 15 de dezembro e 15 de janeiro próximos.
Quando estiver pronta, a ETE despejará no Guaíba cerca de 2,5 mil litros por segundo de esgoto com tratamento terciário — o mais avançado, que elimina substâncias como o fósforo da água, por exemplo. Apesar de incomparavelmente mais limpo do que o esgoto in natura, o material não será 100% livre de impurezas. O sistema não evitará a chegada, no Guaíba, de hormônios presentes na água descartada.
O coordenador do Pisa, engenheiro Valdir Flores, pondera que não há riscos para a população. O impacto, diz, está sendo avaliado em seres vivos que habitam o Guaíba, como peixes e caramujos. A economia com o corte em um quilômetro de tubulação do emissário gira em torno de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões — ou seja, cerca de 1% do valor total do Pisa, de aproximadamente R$ 500 milhões.
Dúvida é se o esgoto se dispersaria na enseada
O diretor técnico da Fepam, Rafael Volquind, afirma que ainda não há uma conclusão sobre os efeitos do depósito do material mais próximo da orla. Devido à complexidade técnica do tema, faz mais de três meses que o órgão ambiental e o Dmae avaliam o cenário na distância pretendida pela prefeitura. A 1,6 mil metros, o esgoto tratado desaguaria em uma enseada, distante do canal de navegação, onde a vazão é maior, segundo Volquind:
— Desde agosto, ou antes ainda, estamos conversando com eles (Dmae) para entender qual é o comportamento da água, das correntes, da vazão, da velocidade, da sedimentação naquele espaço (da enseada), se o que for lançado ficará retido ali ou se vai ser dispersado. E por perto nós temos áreas balneáveis que temos de cuidar.
O estudo está no final. Restam dados complementares que o Dmae deve enviar à Fepam ainda nesta semana.
Nível baixo do Guaíba desperta receio
Moradores e associações têm debatido o assunto, mas sem um entendimento conclusivo. Conforme o presidente da Associação Comunitária de Moradores e Amigos da Zona Sul de Porto Alegre (Acomazs), José Paulo de Oliveira Barros, há preocupação com o baixo nível do Guaíba, especialmente no verão, e o represamento das águas. Morador da Vila Conceição, o médico e velejador amador Sergio Ruschel, 77 anos, levanta dúvidas a partir de observações de mapas da Marinha.
— Pela estimativa que fiz, os dois quilômetros mal ultrapassariam o alinhamento da Ponta Grossa, quando o ideal seria que o efluente fosse despejado próximo ao canal de navegação. Na bacia de Ipanema, a correnteza do Guaíba provoca fluxos reversos, que fariam retornar parte do efluente, em um movimento anti-horário — relata.
Coordenador do Programa de Pós- graduação em Recursos Hídricos e Saneamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o professor Carlos André Bulhões Mendes reforça o risco do nível baixo do Guaíba e alerta para o despejo próximo voltar à orla. Para ele, porém, o maior problema extrapola a Capital. Bulhões lembra que, mesmo se um dia a cidade tratar 100% do seu esgoto em nível terciário, ainda assim a qualidade da água do Guaíba poderá ser duvidosa se os demais municípios da região continuarem despejando seus rejeitos na bacia hidrográfica sem tratamento.

5 COMENTÁRIOS

  1. Prezados amigos do Popa. Bom, muito bom ler e aprender sobre os problemas relativos ao nosso Guaiba. Leio com atenção todos os comentários, pois é um assunto palpitante este projeto. Me impressionou positivamente, lendo todos os comentários, um em especial, o do Rogério Maestri, que me parece ser do ramo. O Popa mais uma vez noticia com isenção e independência um assunto que diz respeito não só a nós navegadores mas a toda população de Porto Alegre. Vamos aguardar os novos desmembramentos.

  2. Chamo a atenção que o assunto não é tão simples como está sendo comentado, tem várias outros parâmetros de dimensionamento de um emissário. Primeiro com o tratamento do esgoto as concentrações de sólidos serão baixas, logo o talvez o próprio funcionamento da estação remova mais sedimentos do fundo que os deposite, isto só se sabe com a qualidade do tratamento que se terá.
    Segundo, se a corrente de saída do emissário for menos densa por quantidade de sedimentos e pela temperatura natural das águas que saem de estações de tratamento estas poderão gerar correntes hipopicnais e não hiperpicnais.
    Não acredito que o DMAE vá dispor simplesmente a canalização sem a dragagem de uma vala, no resto do conduto de extensão muito maior do que o emissário final foi executado este serviço, não é agora no emissário final que eles vão deixar de fazer a escavação.
    Quanto a outras opiniões esclareço que estudos hidrológicos não se aplicam neste tipo de problema, temos mais um caso de correntologia. Também chamo atenção ao meu colega Prof. Bulhões Mendes, que mais uma vez se mete em assuntos que não é a sua especialidade, não é nível baixo ou nível alto que define a inversão de correntes no Rio Guaíba, é o seiche aliado à direção do vento que diz se haverá ou não inversão de corrente. Me causa espécie este comentário do caro colega, pois ele se diz um grande velejador, e se não tem conhecimentos teóricos sobre modelos bidimensionais de correntologia, podia pelo menos observar melhor a natureza.

  3. Como não memória dos erros grosseiros que o DMAE faz frequentemente com o Guaíba, relembro mais uma imensa barbeiragem ocorrida a alguns anos com o Iate Clube Guaiba. Com o lançamento dos prédios da Goldstein ao lado do clube, fez necessário a ampliação da rede de esgoto que foi definido pelo DMAE que seria despejado dentro do ICG ao invés de aproveitar o arroio que existe 300 metros adiante.
    Esta ação, alem de assorear permanentemente a baia do cluble, alterou consideravelmente a qualidade da água na região, a ponto de o mesmo DMAE ter de fazer um novo ponto de captação de água mais adiante da baia, pois o ponto existente naquele local se tornou imprestável!
    Já foi feito estudo hidrológico que comprova o refluxo sobre a baia de Ipanema. Eles estão mantendo na moita!
    Vai ter de haver complemento da obra!
    E se durma com este barulho

  4. É muito grave o assunto. Parece haver indiferença , ou mesmo condescendência para com a cconstrutora, em diminuir o comprimento da tubulação, para reduzir custos. Mas como? J á havia um orçamento pronto, se esperava que estivesse tudo incluido. E agora?
    Além disso, estamos aguardando uma nova carta do Guaiba, fornecida pela MARINHA (DHN) com o posicionamento da tubulação, como em todas as cartas náuticas é feito.