Átila Böhm16 Set 2012 Do lado Brasileiro:
Do lado Argentino: Do Uruguai: UPA – Desenho de Harry Pidgeon, construído no Astillero Marando, no Uruguai em 1940. Da Alemanha:
Da Inglaterra: Dois grandes protagonistas da Regata de 1947, a primeira Buenos Aires – Rio, não participaram da edição de 1950: José Candido Pimentel Duarte e Felipe Justo. José Candido Pimentel Duarte, em setembro de 1949, faltando 4 meses para largada da regata, descobriu que estava com Leucemia. Sua viagem para Buenos Aires foi cancelada, partindo para New York, onde iniciou seu tratamento no Memorial Hospital, de onde acompanhou os preparativos e desenrolar da regata. Seu filho e companheiro de velejadas, Fernando Pimentel Duarte, acompanhava-o em New York e, por ordem de seu pai, em janeiro de 1950, foi direto do hospital para Buenos Aires para juntar-se ao seu irmão José Luiz e competir com o VENDAVAL na segunda edição da regata.
Felipe Justo, vencedor da primeira edição Buenos Aires – Rio, capitão do Alfard, que deixou a sua marca indelével no iatismo da América Latina, não participou da 2º edição. Faleceu navegando na costa do Uruguai anos antes da 2ª Buenos Aires – Rio. O primeiro desafio da regata consistia em chegar a Buenos Aires. As condições meteorológicas da região podem ser extremamente adversas e, por consequência, a navegação deve ser precisa. Devo lembrar que os instrumentos de navegação disponíveis na época eram a bússola, cartas náuticas, compasso, régua, relógio, alidade, radiogônio, sextante, lápis e borracha. Muitas histórias poderiam ser relatadas aqui dos contratempos encontrados pelos veleiros e velejadores. Entretanto, relatarei duas que considero ilustrativas. Segundo o diário de bordo do veleiro SIROCCO, escrito por Frederico Krueder, em 26 de dezembro de 1950, o barco deixou o porto de Santos rumo a Buenos Aires, fazendo escalas em La Paloma e Montevidéu. Conforme seu diário de bordo, no dia 28 o vento virou para o Sul e no dia 3 janeiro escreveu: “Encontramo-nos hoje a 60 mn ao largo da costa do Rio Grande do Sul. Há grande marulho de ondas curtas. O iate balança fazendo 5 nós. Muita animação a bordo, apesar de não termos mais pão, estar racionada a água e, de manhã, comemos apenas uma papa grossa sem leite”. No dia 12 partiram de Montevidéu com um vento de Nordeste que foi aumentando de intensidade. Ainda relatou que chegaram a Buenos Aires com as velas muito danificadas pelos fortes ventos e foi difícil a navegação no canal de acesso ao porto. Os veleiros da Escola Naval da Marinha do Brasil, ALBATROZ e GRAZINA, que partiram do Rio de Janeiro no dia 3 de janeiro escoltados pelo Navio de Guerra BERTIOGA com destino a Buenos Aires, enfrentaram no segundo dia de viagem a primeira tempestade com vento Sudoeste e chuvas. O GRAZINA foi forçado a arribar para Santos em função do mal tempo, que o colocou fora da regata em função do prazo para chegar ao porto de Buenos Aires. Dia 15 de janeiro, após 12 dias de navegação, o ALBATROZ e o Navio de Guerra BERTIOGA, aproximam-se do porto de Buenos Aires. E aí vamos nós para a segunda grande
Dia 22 – Vento Sudeste de 45 nós. Desde uma hora antes da largada muitos contratempos continuavam acontecendo. Às 17 horas, larga a regata. As condições meteorológicas eram realmente adversas com vento Sudeste rondando para leste, fazendo com que toda flotilha sofresse com o vento forte a noite toda. Foram inúmeros bordos para passar o canal do Rio da Prata, cercado por baixios e cascos soçobrados. Dia 23 – Vento contra e forte pela manhã, o ALFARD arribou em Colônia, no Uruguai, para fazer reparos. E o SIROCCO, que navegava junto à costa do Uruguai tentando evitar a correnteza contrária, fazia reparos na vela grande e costurava os garrunchos da buja, que se soltaram. O vento diminuiu a intensidade durante a tarde. Dia 24 – VENDAVAL, FJORD III e JOANNE estavam entre o Cabo Polônio e o Farol do Chuí. Na altura da Ponta Santo Inácio o SIROCCO colocou o balão e começou a navegar à velocidade de 12 nós. O ONDINA estava no través do Cabo Polônio, o MAJOY em La Paloma e o ARACATY em Punta del Este. Dia 25 – VENDAVAL, FJORD III e JOANNE estavam próximo ao Farol Capão da Marca. O SIROCCO cruzou o Chuí em 10º lugar, informação fornecida à eles por um navio da Marinha Brasileira. O ONDINA a poucas milhas a frente do MAJOY, ao Sul de Rio Grande, fez 150 mn em 24 horas. E o ARACATY, que estava no través do Farol do Albardão, distante 60 mn para o mar, adotou a estratégia de afastar-se da costa.
Dia 26 – Vento nordeste forte. Segundo German Frers, em seu livro “Viajes, Disenos e Regatas”, o FJORD III adotou a estratégia de seguir o rumo do VENDAVAL, que optou pelo bordo de terra. Fizeram muitos bordos curtos próximos à praia e avançaram poucas milhas. O SIROCCO em razão do vento forte foi obrigado a capear. O ARACATY seguiu seu bordo para o mar e o MAJOY para terra. Estavam na altura do Farol do Capão da Marca. Dia 27 – Vento Nordeste forte. VENDAVAL e FJORD III navegavam ao Sul do Cabo Sta. Marta, com bordos curtos próximos à praia, o que tornava a velejada cansativa. Na altura do farol São Simão, ARACATY fez 93mn em seu rumo afastado da costa e o MAJOY fez um pouco mais de 70 mn, próximo a costa. Dia 28 – Vento Nordeste forte. VENDAVAL e FJORD III fizeram um bordo longo para o mar, a 50 mn da costa onde os dois cambaram para o norte na altura de Laguna. O ONDINA encontrava-se próximo a Torres, o MAJOY ao norte de Tramandaí e o ARACATY estava a 140 mn da costa, ao Sul de Tramandaí.
Dia 29 – Sem referência ao vento na posição do VENDAVAL e do FJORD III, que estavam na altura da Ilha de Florianópolis a 50 mn da costa, onde fizeram novamente o bordo para a terra. ONDINA e o MAJOY, que tentavam contornar o Cabo Sta. Marta, encontraram vento Nordeste forte e praticamente não avançaram. Dia 30 – VENDAVAL e FJORD III estavam próximos a Ilha do Bom Abrigo. O SIROCCO cruzou o Cabo Santa Marta em 7º lugar e, segundo seu comandante Frederico Krueder, estavam com avarias nos estais, o que poderia levar à ruptura do mastro. “O vazamento de água pela enora (onde o mastro cruza o convés), molhava os colchões. O mal cheiro e falta de higiene pessoal incomodavam a pele dos tripulantes e tornavam a regata mais difícil.” O ARACATY estava a 40 mn a Sudeste de Florianópolis, na altura de Imbituba, enquanto o ONDINA e MAJOY montaram o Cabo Sta. Marta. Dia 31 – O VENDAVAL navegava ao largo de Ilhabela e o FJORD III a 30 milhas afastado da costa. O vento acalmou para o SIROCCO na altura de São Francisco do Sul. O ARACATY cruzou na frente do ONDINA e do MAJOY e desistiu da regata. O ONDINA e o MAJOY, ao Sul de Florianópolis, seguiram no bordo para o Leste. Dia 1 – Vento contra e fraco para o VENDAVAL e o FJORD III, que estavam próximo a Ilha Grande em Angra dos Reis. O ONDINA e o MAJOY navegaram a maior parte do dia para o Leste e praticamente não avançaram em direção ao objetivo, cambando para o Norte no fim da tarde, na altura de Florianópolis. Dia 2 – O VENDAVAL cruzou a linha de chegada às 00 horas e 21 minutos, sagrando-se Fita Azul da 2ª Buenos Aires – Rio, seguido pelo FJORD III, 50 minutos após, e em terceiro o chegou o JOANNE, às 13 horas.
Fernando Pimentel Duarte, relembrando da regata, escreveu em um e-mail para mim: “Navegávamos à noite próximo à orla do Rio de Janeiro, calmaria com pequenos sopros de ventos de todos os lados, mas o emocionante foi que, não me lembro da estação de rádio, o locutor esportivo Oduvaldo Cozzi irradiava, de bordo de uma lancha, as manobras que fazíamos como se fosse a transmissão de jogo de futebol. Mas, o que realmente nos deixou emocionados, foi quando navegávamos em frente à Copacabana, e o locutor pediu aos moradores que apagassem e acendessem as luzes dos apartamentos para nos incentivar, no que foi atendido por todos.” Dia 3 – O ERRANTE chega às 18 horas conquistando o quarto lugar em tempo corrigido. O SIROCCO, na altura de Santos, encalmado, avaliou que não teriam mais chances na competição, e às 19 horas entrou no Porto de Santos dando por encerrada a participação na regata. O ONDINA e o MAJOY estavam entre a Ilha do Bom Abrigo e Santos. Dia 4 – Às 07 horas cruzou a linha de chegada o ALFARD. Ao final da tarde entrou um vento Sudoeste forte, estando o ONDINA a 80 mn do Rio de Janeiro, seguido pelo MAJOY. Dia 5 – Entre 2 e 3 horas cruzaram a linha de chegada na ordem o TRUCHA, MAGELLAN e ONDINA, e às 09 horas da manhã o MAJOY completava o percurso. Agradecimentos: |
Resultado da Regata BsAs – Rio 1950
COL | NUMERAL | BARCO | LOA | ANO | COMANDANTE | CLUBE | PROJETISTA / ESTALEIRO |
FITA AZUL | BL 3 | VENDAVAL | 65 | 1942 | Helio Leôncio Martins | ICRJ | S & S / Brazilian Coal Rio |
1 | A 141 | FJORD III | 50 | 1947 | German Frers | YCA | Frers |
2 | A 15 | JOANNE | 50 | 1946 | Rene Salem | YCA | Frers / Astillero Gomez & Gonzalez |
3 | BL 3 | VENDAVAL | 65 | 1942 | Helio L. Martím | ICRJ | S & S / Brazilian Coal Rio |
4 | Arg | ERRANTE – Errante (Uy) | 41 | 1950 | Alberto Rodriguez Etcheto | CNO | Frers / Dalin |
5 | A 115 | CANGREJO – Nathaly e Cangrejo (Bra) | 40 | 1944 | Enrique Salzman | Frers | |
6 | BL 13 | ONDINA | 40 | 1948 | Joaquim Belem | ICRJ | S & S / ICRJ |
7 | A 169 | TRUCHA – Angica III (Bra) | 39 | 1949 | Hipolito Gil Elizalde | Frers / Astillero Gutierrez | |
8 | A 22 | ALFARD | 51 | 1942 | Carlos Caro | YCA | Frers |
9 | BL 11 | MAJOY | 40 | Eduardo Simonsen | ICS | S & S / Arataca | |
10 | A 220 | TUDEMAY – Vendaval (Arg) | 40 | 1949 | Juan Bo | S & S / | |
11 | Alemanha | MAGELLAN – Destino (Bra) | 1948 | Heinrich Lehmann-Willenbrock | Kurt A.H. Oehlmann / Eckernforde | ||
12 | A 217 | GITANO | 40 | 1949 | Antonio Ricupero | Niels Sorensen Viale / Astillero Dalín | |
13 | Arg | LADY SUSAN | Rodolfo S. Harari | ||||
14 | A 121 | MARIANDICK | 39 | 1948 | David Sigal | Frers / | |
15 | K 604 | BLUE DISA | 31 | 1949 | Dick Scholfield | Laurent Giles / Camper & Nicholson | |
16 | A 25 | MARACAIBO – Eolo (ARG) Maracaibo (Bra) | 47 | Hugo Warneford Thomson | |||
17 | Uruguay | UPA | 36 | 1940 | Ramon Gainza | YCU | Harry Pidgeon / Astillero Marando |
18 | Uruguay | CAESAR | 38 | 1946 | J. Acevedo Tagle | YCU | Roberto Hosmann |
DNF | Arg | ALSABIK | Roberto D. Herrara | ||||
DNF | BL 5 | SIROCCO | 48 | 1947 | Federico Kruder | ICS | Knut Reimers / |
DNF | BL 10 | ARACATY | 40 | 1949 | Mariano J. Ferraz | ICRJ | S&S / Arataca |
DNF | Uruguay | ASTRAL | Roman Fresnedo Siri | YCU | |||
DNF | Arg | HALCON NEGRO | Jose P. Contessa | ||||
DNF | Arg | HUALUN | V. Salmun Feijoo | ||||
DNF | Arg | LORNA | Luis A. Mignone | ||||
DNF | A 174 | PETE IV | 37 | 1949 | Fernando Solis | Fernando Solis | |
DNF | Arg | WHITE DOVE | 38 | Juan J. Jorba | Manuel Campos | ||
DNC | BL 8 | ATREVIDA | 95 | 1923 | Juan D. Da Lima | ICRJ | N. Herreshoff / Herreshoff Inc. |
DNC | A 222 | FORTUNA | 63 | 1949 | Efrain Ledesma | ARA | Manuel Campos / Arsenal Naval Bs As |
DNC | Brasil | ALBATROZ – Wishbone (Ing) | 83 | 1935 | Escola Naval Marinha Brasileira | MB | Uffa Fox / J. Samuel White |
DNC | Arg | ISEO | Mario Rosa | ||||
DNC | Brasil | ALDEBARAN | Joaquim Padua Soares | ICRJ |
FJORD III cerca de 1949
Tripulacao do FJORD III, 1950
TUDERMAY antes da largada 1950
SIROCCO, 1950
Ondina 1948
Veleiro Vendaval
Veleiro Vendaval
Tripulação do Vendaval , 1950
Em pé, partindo da esquerda: Victor Demaison, Alcides Lopes, Fernando Pimentel Duarte,
Pedro Avelino, Amilcar Garcia, Felipe Haas e Luiz Carlos Peixoto Ramos
Sentados: Hélio Leôncio Martins, José Luiz Pimentel Duarte e Flávio Barroso.
Posições do Vendaval, Fjord III e Joanne
Isto é uma reedição do artigo “Regata Buenos Aires – Rio de Janeiro, 1950”, veja o original clicando aqui
13 Set 2013
Jose Carlos Maio
Meus parabens!!!!Assim devo começar este depoimento.Realmente o velho e querido Lazlo,tinha porque sentir tanto orgulho do seu filho.Eu sou um homem feliz ,por ter ,na época,comprado o pequeno Uba do meu amigo Lazlo,e estar com ele até hoje,praticamente restaurado e já com novo comandante em preparo,meu filho Diego.Que o destino faça com ele,o que fez com o filho de um grande amigo.Parabens Guri.Do amigo Maio
02 Jun 2013
Lars Grael
Parabéns. Recosntituição de valor histórico e inestimável da Buenos Aires – Rio.
Atrevida de volta em 2013?
Lars Grael
27 Mai 2013
Victor Demaison
Assim como o relato da BA-Rio de 1947, parabens novamente. Abs, Victor Demaison
11 Jan 2013
João Alfredo
ATILA, QUE GRANDE EMOÇÃO, PODER VER NOVAMENTE OS VELEIROS QUE FAZIAM PARTE DOS MEUS SONHOS JUVENIS.
COMO ERA BONITO ASSISTIR AQUELES CLÁSSICOS SAINDO PELA BOCA DA BARRA, COM AS VELAS ENFUNADAS RUMO AO MAR.
QUE SAUDADES, DO ATREVIDA, VENDAVAL, SAMPA, SEVEN,
BREKELÉ, VILEGAGNON, COLIGNY, CAYRU E MUITOS OUTROS BELOS EXEMPLARES DE NOSSOS FAMOSOS VELEIROS.
PARABÉNS PELAS BELAS IMAGENS E DOS RELATOS QUE NOS REMETEM A UMA ÉPOCA MARAVILHOSA DE NOSSO YATISMO.
JOÃO ALFREDO
21 Set 2012
Erika
Atila, muito obrigada por postar tao belo relato. Tambem fiquei muito emocionada por milhoes de motivos. Acima de tudo porque estou vivendo longe do mar e creio que nem me dava conta do quanto sinto falta de velejar.
Belissimos barcos da epoca, uma belo flotilha e fico feliz por todos que puderam velejar numa epoca tao bela da vela. Nem se fala no Atrevida e fico mto feliz por este barco estar ai navegando por tanto tempo. Admiro muito as pessoas que investem em barcos classicos e mantem estas belissimas linhas enchendo os nossos olhos no mar. belissimo!
17 Set 2012
Roberto Costa Sousa Filho
Atila, muito me emocionou ler os relatos das regatas de 47 e 50. Desde a minha infância, embalado pelas histórias e fotos dos barcos que meu avô construiu para participação da Buenos Aires Rio, isso se tornou minha grande inspiração e sonho, de velejar. Muita coisa que eu não sabia a respeito dessas regatas, especialmente sua narrativa me fez sentir o grau de importância e emoção dos que fizeram essa gloriosa participação do esporte náutico. Grato por haver pessoas como você, que acrescentam. Parabéns!
16 Set 2012
Roberto Geyer
Parabens, reportagem ficou ótima.