Danilo Chagas Ribeiro
Na manhã do sábado, 13 de abril de 2013, participei de um bonito passeio à cidade de Montenegro RS, subindo o Rio Caí, por onde eu nunca havia navegado. Embarcamos na lancha Focker 280 “Quatro Estações” na Marina da Conga, na Ilha das Flores, Rio Jacuí, no início da manhã, a convite do Comandante Marco Antônio Braun.
O passeio de aproximadamente duas horas em um rio bonito de navegar, foi uma excelente moldura para o convívio harmonioso e divertido. Afinal, é o convívio e a parceria o que conta mesmo em um passeio de lancha, como em qualquer outro.
Liderando a flotilha composta pelas mais de 30 lanchas que participavam do “VI River Tour”, um evento náutico realizado pela Motoryama/Nautiway, o comandante Marco Antônio subiu o Jacuí por umas 3 a 4 milhas náuticas, até as proximidades do Canal Santa Clara, onde deixou a Ilha do Lage por boreste, rumando para leste pelo Rio das Balças* (Delta do Jacuí). A umas duas milhas adiante, guinamos a bombordo para iniciarmos a subida do Rio Caí, a partir da foz, no rumo NW. As lanchas navegavam em fila indiana mantendo grande afastamento entre uma e outra. A velocidade de cruzeiro era em torno de 24 nós.
O dia estava maravilhoso, e quase não havia vento no rio. Estimei a correnteza (já no porto de Montenegro) em torno de 5 nós, se tanto. Não havia obstáculos notáveis boiando no rio. O rio estava baixo e o tráfego era desprezível, embora tenhamos avistado diversas embarcações miúdas fundeadas, com pessoal pescando com caniço.
Na chegada da flotilha a Montenegro, com direito a salva de fogos, foi bonito ver o tradicional clima de colaboração entre os participantes, com atracação em contrabordo e cada um ajudando os demais como pode.
Paisagem
Subindo-se o rio Caí a partir da foz, a paisagem mostra-se plana por detrás da mata ciliar, com raras elevações no terreno. Na cidade de Montenegro começam a aparecer alguns morros, como a montante da cidade, onde um morro com arenito exposto compõe um trecho curvo da margem esquerda do rio. As margens do Rio Caí apresentam a mata ciliar típica do Rio Grande do Sul, tanto na flora quanto na largura irrisória, embora a gente se engane ao navegar. A imagem de satélite mostra que, em alguns trechos, as lavouras avançam até a beira do rio.
Junto à foz, o Caí tem mais de 100m de largura, diminuindo para uns 70m nas proximidades de Montenegro. A meandragem torna a navegação mais atraente, mudando a paisagem frequentemente.
Subindo o rio a partir da foz, avista-se uma ponte ferroviária centenária a umas 6 milhas náuticas. Logo em seguida avista-se algumas estruturas do Polo Petroquímico de Triunfo. Mais adiante, passa-se sob a ponte da rodovia BR-386 (Tabaí – Canoas). Apesar de se ver algumas embarcações comerciais atracadas ao longo do rio, o tráfego no sábado era desprezível. Vimos um porto com embarque de minério. A navegação pelo Caí até Montenegro, não é difícil. Segundo o Comte Marco Antônio Braun, não há pedras submersas até Montenegro.
O percurso de aproximadamente 38 milhas náuticas até Montenegro, foi estendido pelo Comte Marco Antônio Braun em mais umas 4 ou 5 milhas, até a ponte da RS-240 (BR-287), de onde retornamos.
O Rio Caí
A navegação pelo Caí vem desde os tempos de colonização da região banhada pelo rio (Vale do Caí). A produção agrícola do Vale do Caí tinha no rio, seu principal meio de escoamento. Como em todo o estado do Rio Grande do Sul, a navegação comercial pelo Caí já passou por melhores dias. Em 1910, a construção de ponte ferroviária sobre o rio condenou sua utilização para fins de navegação comercial. A ponte, de muito baixa altura sobre o Caí (veja na foto ao lado) , impede a passagem de embarcações de médio porte. Quando o rio sobe, em épocas de maior precipitação, não passa nada por debaixo da ponte, a não ser água. Sua construção é considerada um “crime” por historiadores da região. Li na Internet que um político está pleiteando uma “pequena reforma” na ponte para que as embarcações possam passar por ali…
Montenegro
Durante o almoço, a rainha e as princesas de uma festa do município de Montenegro prestaram informações ao Comte Braun sobre as atividades no município, como a produção de cítricos, suinocultura e indústrias, como a de armas e munições CBC, e a John Deere, de máquinas agrícolas.
O município, hoje com 60.000 habitantes, era povoado por índios. Os portugueses, subindo o Rio Caí, instalaram-se na região em 1730. Depois vieram os alemães, italianos e franceses. Os Farrapos deram o que fazer, saqueando as estâncias da região. Em 1904 foi construído o cais do porto na cidade, o segundo construído no estado. Por situar-se na margem do rio Caí, Montenegro tornou-se polo de escoamento da produção da região.
Dentre os ilustres de Montenegro estão Pompílio Cylon Fernandes Rosa, ex-governador do RS, Augusto Licks, ex-guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii e Oswaldo de Lia Pires, famoso advogado criminalista.
“Jetski anfíbio”
Lá pelo meio do percurso, nos chamou a atenção dois jetskis que vinham saltando as marolas das lanchas. Um deles, me deixou muito curioso porque, atrás do piloto, havia uma roda parecida com as de bicicleta.
Àquela distância (jet amarelo na foto ao lado), não dava para perceber mais do que isso. Vai ver que já inventaram o “jetski anfíbio” 🙂
O Comandante, que era o único que não havia bebido, não podia ficar olhando para trás.
Alguém na tripulação chegou a pensar que fosse uma cadeira de rodas… Não é cadeira de roda, nada! Mas bem capaz!!! Claro que é!!!…
Na medida em que o tal jet anfíbio se aproximava da popa da lancha, pudemos perceber o que realmente havia na popa do jet.
Confira em Navegadores 670.
Organização do VI River Tour
A realização do VI River Tour é da Motoryama/Nautiway, principal revenda de lanchas e jetskis do Rio Grande do Sul, sob o comando do Cmte Rogério Schroder. A logística incluiu dois botes infláveis para desembarque dos participantes, lancha com mecânico de prontidão, cálices de espumante gelado servidos na chegada sob toldo à beira do cais, e outros mimos mais.
O almoço foi servido no Clube de Regatas Caça e Pesca, em frente ao local de desembarque, com grande variedade de peixes, muito bem preparados.
Dias antes da data da largada, a Nautiway reuniu os interessados sobre o evento em churrasco na sua sede, onde as instruções e recomendações sobre o passeio foram passadas.
Parabéns à Motoryama/Nautiway pela competência na organização do VI River Tour, e ao líder do evento, Comte Marco Antônio Braun, da lancha Quatro Estações, pela navegação impecável, condução cuidadosa, e pelo fornecimento de informações pelo VHF.
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(*) “balça” (com ce cedilha) é a denominação de um tipo de vegetação aquática.
Imagens do passeio
Paisagens 1508 Paisagens 1509 Paisagens 1510 Barcos 969
Navegadores 670 Navegadores 671 Navegadores 672 Navegadores 673
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Significado de alguns termos utilizados no texto (a pedido):
A montante: rio acima. Algo no Rio Caí “a montante de Montenegro” está entre Montenegro e a nascente do rio. A ponte ferroviária citada está a jusante de Montenegro, ou seja, está rio abaixo ou em direção à foz, para quem está na cidade.
Margem esquerda: a indicação da margem direita ou esquerda de um rio depende de onde se está olhando? Não. A margem esquerda é a que está à esquerda de quem olha o rio, de costas para a nascente. A cidade de Montenegro está na margem direita do Rio Caí.
Mata ciliar: a mata ribeirinha. A que margeia um rio e outros corpos d’água.
Boreste e bombordo: lado direito e esquerdo de uma embarcação.
Nó: medida de velocidade, equivalente a uma milha náutica/hora (1,852km/h). Para estimar grosseiramente a velocidade em km/h, multiplica-se o valor em nós por 2. Assim, 24 nós equivale mais ou menos a 48km/h.
Fundeado: ancorado; local de fundeio: local onde as embarcações ficam fundeadas.
Contrabordo: uma embarcação está a contrabordo de outra quando estão encostadas lado a lado.
Subir um rio: navegar rio acima, navegar em direção à nascente do rio.
Meandragem: formação de meandros; meandro é um tipo de curva do rio, formada e alterada naturalmente com o passar do tempo. Observe na imagem do roteiro acima (Navionics), que a meandragem do Caí é maior a montante da BR-386 do que junto à foz.
Grande Capitão Danilo, alem de nos dar aulas sobre constelação, escreve este relato maravilhoso sobre este passeio e todo com um leque de informações sobre tudo o que envolve.
Muito Obrigado !!!
Até o Próximo.