Barco Seival
Muito temos ouvido falar do barco Seival, mas nunca encontramos um relato específico a respeito dele e de suas viajadas. Primeiro o nome: O Estaleiro: A construção: Garibaldi sentiu logo que com os recursos que tinha seria muito demorada a construção. Conseguiu que o governo enviasse alguém à Montevidéu para buscar ajuda. De lá veio Carniglia, carpinteiro naval com equipe de mestres e operários. De Montevidéu vieram também alguns marinheiros que somados a outros tantos das redondezas formaram uma tripulação heterogênea de setenta homens ao todo. Com esse auxílio extra em pouco mais de dois meses conseguiram construir dois lanchões, aos quais deram nomes que evocavam vitórias Farroupilhas, ao maior de 18 toneladas deram o nome de RIO PARDO cujo comando seria de Garibaldi. O segundo, de 12 toneladas era o SEIVAL, comandado pelo irlandês John Griggs chamado pelos brasileiros de João Grandão. Lançamento: A presa foi encalhada e sendo dividida sua carga conforme carta de corso que Garibaldi tinha. Em resposta a esse ataque o governo federal mandou para a Lagoa, sob o comando do inglês almirante Grenfell quatro navios de guerra. Quando perseguidos pelos imperiais chegavam a um banco o brado era: “ À água, patos”. Todos pulavam n’água, inclusive Garibaldi e metendo os ombros no barco cruzavam para o outro lado. Contando com uma frota numerosa foi fácil retomar esses redutos mas, o mesmo não acontecendo com a idéia de capturar Garibaldi que, conhecendo bem a lagoa, passou por cima do banco das Desertas, entrou na Lagoa do Casamento e foi se esconder dentro do Arroio Capivari, acima da lagoa do mesmo nome a duas milhas da sua foz. Camuflaram os mastros com a vegetação abundante das margens e começaram a executar o que estava planejado, construir duas carretas para os barcos e leva-los até Tramandaí. Enquanto o General Canabarro requisitava na região, em segredo, duzentos bois de canga, Garibaldi reunia o material necessário, principalmente cordoalha e madeirame de embarcações apreendidas. As rodas seriam de madeira, com 3,20 metros de diâmetro e, acredita-se, cerca de 40 centímetros de largura. As margens do arroio foram aplainadas e os eixos e rodas submergidos sob os cascos para montarem o que seria uma carreta. Levaram dois dias nessa tarefa, quando acharam que estava tudo pronto atrelaram 16 juntas de boi e tentaram começar a viajada. Não deu certo e quase virou o barco. Finalmente no dia 05 de setembro de 1839 conseguiram tirar os barcos d’água e começar o transporte por terra. Agora um parêntesis: vamos imaginar que tenhamos que retirar do arroio Araçá o barco Virgínia tão bem cuidado pelo marinheiro Waldir do nosso clube (Veleiros do Sul). Sem maquinária nenhuma, em cinco dias, projetar e construir uma carreta, amarrar em baixo do barco e puxar para fora d’água, ainda por cima escondidos e preocupados com o aparecimento de forças inimigas. A viagem por terra na distância de 54 milhas até a Lagoa Tomás José durou seis dias. Lá chegados tiveram que preparar o terreno para recolocarem os barcos na água, reequipar os mesmos, inclusive com as armas pois tinha retirado tudo o que era possível pára alivia-los de peso durante a viajada. Os números parecem muito grandes mas, por exemplo, 200 bois de canga não era mais do que três mudas de bois. 16 juntas em cada barco perfazem 64 bois usados de cada vez, imagino o número de pessoas envolvidas. A alegria de estar velejando no mar durou pouco, pois entrou um pampeiro que acabou fazendo o Rio Pardo ir a pique próximo a Araranguá. Quando Garibaldi conseguiu chegar na praia, perto da Pedra do Campo Bom, contou sua tripulação e viu que tinha perdido 16 marujos dentre eles companheiros italianos de muitas jornadas. O Seival com John Griggs no comando, talvez por ser um barco mais marinheiro conseguiu se safar e continuou velejando. Resolveram entrar em Laguna pela pequena barra do Camacho o que, acho, milagrosamente conseguiram. Com o auxilio de um prático local o barco seguiu, com Garibaldi também a bordo pelo tortuoso arroio até chegar a Laguna. Os imperiais mantinham no morro da Glória sentinelas permanentes instruídos para controlarem a barra em direção ao mar pois, pelo rio Tubarão, achavam, só baleeiras podiam navegar. A flotilha imperial era composta dos vasos de guerra Imperial Catarinense, Sant’Anna e Lagunense, de dois lanchões e mais a escuna Itaparica e o brigue Cometa. As tropas farroupilhas atacaram por dois lados e de repente surge o Seival na boca do rio Tubarão e ataca a nave imperial Sant’Anna. Instala-se o pânico nas fileiras imperiais, José de Jesus, comandante da Imperial Catarinense sentindo a derrota próxima manda incendiar seu barco causando ainda mais confusão. Dois dias depois os farroupilhas tomavam de vez a vila. O governo imperial ciente de que não deveria deixar os revolucionários saírem da barra de Laguna postou em sua entrada o patacho Desterro, fortemente armado. Aqui cabe uma nota sobre Anita, era casada na época e estava com apenas 18 anos… A corveta Regeneração vasculhava a área entre Santos e Paranaguá e às 16:30 horas de 28 de outubro, perto da Ponta da Juréia avistou o inimigo disparando seus canhões de proa contra o retardatário. Durante a noite o barco da marinha ficou ao largo retornando a perseguição ao amanhecer. Por sorte uma forte rajada de SO rasgou algumas velas da corveta que teve que voltar para Santos.
Aproveitando o espaço os 115 tripulantes dos três barcos ancoraram na Ilha do Bom Abrigo em busca de provisões. Saindo dali capturaram a sumaca Elisa e o iate Formiga. Indo para Imbituba Garibaldi retirou o canhão do Seival e o colocou no morro, trabalhando a noite toda. Não se sabe por que motivo os imperiais abandonaram o ataque no dia seguinte. Garibaldi mandou Anita pedir reforços para Canabarro com ordem de lá permanecer. Pouco depois volta Anita em pé no bote com dois remadores assumindo pessoalmente o transporte dos feridos e da munição. Fez ao todo 12 viagens. O Seival foi encalhado e mais tarde posto a flutuar transformado em iate mercante como nome de Garrafão. Em 1945 foi encontrada uma figueira nos restos da quilha do Seival, a qual foi transplantada para uma praça ficando conhecida como Árvore de Anita. Augusto Chagas, Outubro 2002 |
Esta matéria foi originalmente publicad em 12 set 2006, no Popa.com.br
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